Este livro reúne poemas que vêm de longe e poemas recentes. Podem parecer distantes uns dos outros, mas são interdependentes, unidos por um só fio condutor - este no qual hoje equilibramos uma tensão radical entre a vida e a morte e cujo desfecho poderá ser trágico e irreversível. Não há mais ingenuidade e, por isso, não temos mais tempo para o politicamente correto. É sobre este fio que Heliete escreve, literal e simbolicamente; e, como as palavras são uma arma, outra, de longo alcance, é justo, de nossa p(arte), desacomodá-las, quebrar linha por linha as moléculas da língua, fazer buracos no real da linguagem para compartilhar o espetáculo da materialidade da Criação, sua luminosidade, o milagre do encontro com o olhar do outro, mas, também, para falar da nossa miséria e precariedade, de nossa cegueira e embrutecimento que geram a destruição suicida dos afetos. Este livro é um gesto contra esse horror. Não podemos nos acostumar com ele. A autora desconsidera uma existência resignada, sem pontos de interrogação, sem dúvidas, desprovida de enigma. Os versos que traz aqui não têm como propósito distrair quem os lê. Eles são, sim, um convite, quase um apelo para pensarmos juntos.
Heliete Karam, natural de Bagé (RS), é assistente social psiquiátrica, mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Paris 7 (Nouvelle Sorbonne), doutora em Psicologia Clínica pelo Conservatório Nacional de Artes e Ofícios de Paris (Cnam), membro fundador da Associação Internacional dos Especialistas em Psicodinâmica do Trabalho (Paris) e integra o Coletivo Testemunho e Ação, da Associação Psicanalítica Sigmund Freud, de Porto Alegre. Na área técnico-profissional é autora dos livros: Da alcoolização ao verbo: ensaio de psicodinâmica do trabalho (Paralelo 15) e Psicodinâmica do trabalho: contribuição ao método (Edufba), além de vários artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais nos quais sempre encontra espaço para que ciência e literatura conversem. Na poesia, é autora dos livros: Alma-de-gato (Ed. Movimento) e Insonolência (Instituto Estadual do Livro/RS).