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O livro é uma poderosa e estruturada travessia em três atos: Lenha, Inflamável e Fogo, uma metáfora crescente da construção e combustão de um país atravessado por injustiças, memórias, lutas e resistências. A organização em atos sugere uma dramaturgia incendiária, onde a madeira seca da história (Ato 1), uma vez tensionada pela crítica social (Ato 2), se acende em fogo vivo nas vozes que recusam o apagamento (Ato 3).

 

As crônicas têm caráter incisivo, histórico e combativo, fundindo linguagem poética com jornalismo crítico e memória coletiva. Textos como “Guerreiro da Borracha”, “Terrorista da Pedagogia” e “Marcha das Margaridas” não apenas recuperam figuras e eventos esquecidos ou distorcidos pela historiografia oficial, mas também reposicionam essas narrativas como faróis de resistência para o presente.

 

O livro é um manifesto. Um inventário das dores brasileiras — coloniais, raciais, patriarcais, econômicas — mas também das respostas insurgentes a essas dores. Há uma curadoria de temas que equilibra a denúncia com a proposta, a crítica com a homenagem, o luto com o levante.

 

O autor consegue, com ritmo, ironia fina e intensidade lírica, transformar o gênero da crônica em instrumento político. Mesmo quando íntimos, os textos têm alcance coletivo.

 

Ana Mello

10/10/2025