Conto de Fadas

Cristiane Luz

Pegou o jornal, sentou e começou a ler: “filho mata pai para ficar com a herança.”

Na verdade, queria um café forte naquele momento. Quase todos os dias, pela manhã, fazia frio na biblioteca. Ele sabia disso. Voltou sua atenção para o jornal: “Em disputa judicial, esposa perde a guarda dos filhos pequenos ao usá-los para extorquir dinheiro do ex-marido.”

Remexeu-se na cadeira, olhou o relógio. Trocou de página: “Empresário perde família e fortuna ao envolver-se com a sua secretária.”

Finalmente ela chegou. Vestia seu casaquinho verde e tinha pose de adolescente.

Ele largou o jornal na mesinha. Suspirou. Observou ela andar pela biblioteca, ir até a estante de livros, buscar um na prateleira, folhar e guardar de volta. Ela repetiu o gesto duas vezes. Procurava uma leitura específica. Típico dela. Trocou de estante, indo até a prateleira de livros infantis. Rodopiou feliz ao encontrar o que procurava. Colocou-o embaixo do braço.

Toda a alegria depositada naquele livro de capa rosa, pensou ele.

Levantou-se nervoso, mas criou coragem e caminhou até ela.

- O que você quer agora? – perguntou aborrecida, fitando-o desencantada.

- Minha esposa de volta e o conto de fadas – disse ele, apontando para o livro rosa.

 

voltar para página do autor