Sobre mel e rosas

Adriana Maschmann

Sobre mel e rosas

Era um jardim, ninguém duvidava, mas não um jardim qualquer. Tudo nele era singular. O rasgar dos dias trazia consigo cores, perfumes e grande variedade de flores. No centro, reinava altiva uma roseira posta em flor. Ao lado dela, um craveiro chamava a atenção por sua imponência e robustez.

Competidoras tenazes, margaridas, camélias,violetas, dálias, tulipas e rosas lançavam olhares cobiçosos ao craveiro, orgulhoso e consciente do efeito causado em boa parte das admiradoras nada secretas. Arrogantes, viviam os cravos a buscar formas de manter a devoção da sua plateia: ora destacavam os raios do sol, ora se exibiam sob o orvalho. Eram amados. Mais, eram venerados.

Desejosas de atrair a afeição dos belos vizinhos, as flores não poupavam esforços ao emanar as mais suaves fragrâncias, bem como mostrar uma miríade de contrastes espetaculares. Menos uma. A ela não interessavam os cravos. Achava-os enfadonhos, sem graça, ridículos e esnobes. Na verdade, desprovidos de qualquer atrativo. Por conta disso, era o único botão a permanecer abraçado às próprias pétalas naquela roseira tão exuberante. E ninguém entendia o porquê.

Quanto mais o tempo passava, maior a expectativa daquela que ainda não havia cedido aos chamados do amor, embora não faltassem pretendentes. A insistência se fez tormento; as críticas, solidão.

Em noites de lua, o sibilar do vento trazia de longe promessas de outros amanhãs. Aprendeu a ouvir a própria voz e intuiu a proximidade inquietante de algo extraordinário. Sabia próxima a grande revelação porque descobrira muito sobre si mesma.

Então aconteceu. Ia alto o sol quando um zumbido prendeu sua atenção e ela teve medo. Diante dela, uma abelha exibia asas, cores e ferrão. Mas o prazer dissolve os temores e ela soube, naquele instante, que não mais seria um tardio botão de rosa. Chegara enfim a sua primavera, trazendo consigo a descoberta do desejo.

Atraída pela beleza vibrante daquelas pétalas ainda intocadas, a abelha, com sua dança suave e ao mesmo tempo enérgica, serviu-se da jovem flor apenas roçando-a sem tirar-lhe o viço. A magia do bailado provocou uma explosão de aromas, pólen e néctar.

Num misto de dor e êxtase, entregue aos hábeis movimentos de sua parceira, a flor, profana e ao mesmo tempo sagrada, se eleva e desabrocha. Não mais um botão, mas rosa enfim.

 

voltar para página do autor