Razão de Viver

Cristiane Luz



Bianca sentou-se à mesa. Pegou o minichurro já olhando para a bandeja de pé de moleque ao lado.

A mesma Bianca, anos depois, subia lentamente as escadas em direção ao seu apartamento. Agora, na geladeira, apenas iogurte diet e as lembranças da infância.

Entrou jogando as chaves na mesinha. Soltou os cabelos. Estava cansada e deprimida.

Lembrou dos aniversários do filho, de quando era pequeno. Ele sempre escolhia o bolo de chocolate por adoração, e também porque brincava com ela ao sorrir e mostrar os dentes sujos de marrom.

Entrou no chuveiro. Suspirou. As lágrimas se misturavam com a água. Seria sempre daquela forma? Algum dia terminaria? Estava exausta daquela vida. Parecia andar em círculos há muito tempo.

Quando era criança, apenas dizia que não queria mais brincar e pronto. Cruzava os braços em protestos e logo começavam uma nova brincadeira. Agora, como era difícil ser adulta!

O telefone tocou enquanto preparava o café:

- Alô, Bianca?

- Oi Bruno.

- Não encontramos nada ainda. Mas a polícia vai continuar procurando, eu te prometo.

O ex marido despediu-se e desligou.

Ela voltou a chorar enquanto observava a cafeteira fazer o trabalho.

Foi, então, que a campainha tocou. Correu para abrir a porta:

- Oi mãe!

-Pablo, meu filho! - as lágrimas, antes de tristeza, agora eram de alegria.

- Mãe, preciso da sua ajuda!

Ele, parado ali na frente dela, parecia tão indefeso, não parecia nada com o adulto que deveria ser.

Ela olhou o filho nos olhos e percebeu que, desta vez, eles estavam limpos. Era uma vitória. Uma luz no fim do túnel, afinal.

- Sempre estarei aqui por você, meu filho. – disse-lhe, chorando, e finalizou: – minha razão de viver.

Bianca, abraçada ao filho, levou-o para dentro do apartamento e fechou a porta.

 

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