Privação de Liberdade

Geni Oliveira





Privação de liberdade

Art. 40
1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.
2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito.
(DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS)


Lagos refletindo árvores majestosas. Marrecos, patos e cisnes, de pescoço preto, deslumbrantes. Pareciam à vontade, nadando, descansando à sombra e alguns filhotes ensaiando voos curtos. Liberdade vigiada.
Outros animais, em regime semiaberto, direito conquistado por bom comportamento. Hipopótamos gordos, lustrosos. Parece a vó Pietra, falou um dos meninos espiando através da cerca.
Tartarugas à beira do lago, lagarteando. Um jabuti comendo uma folha verde, a única que brotou naquele terreno inóspito. Um passo de cada vez. Pressa para quê?
Num lago menor, lontras faceiras nadando em círculos. Algumas saltitantes exibindo-se do lado de fora.
Os jacarés, no seu reduto, bem distantes dos humanos. Hora da sesta.
Macacos, numa ilha, mostravam suas habilidades nas cordas. Um deles trouxe uma laranja para uma macaca que não saía do lugar para nada. Aquela fruta devia estar muito gostosa, recém arrancada do pé.
Zebras ostentando suas listras e a pergunta crucial da nossa existência. São brancas com listras pretas ou pretas com listras brancas?
Um guanaco montava guarda a um muro. Ia e vinha compenetrado, no mesmo ritmo. Ou seria porque dispunha apenas daquela estreita faixa de sombra?
Alces com seus galhos chocando-se, enquanto os outros assistiam. Briga ou brincadeira? Como saber?
Próximo às churrasqueiras, um carro com o som no volume máximo. Em cartazes, junto às telas, recomendações para respeitar os animais e não gritar.
Elefantes pesadões, parados, mudos. Se não tivesse tanta gente por perto eu teria me comunicado com eles. Aprendi num filme como se faz.
Aves em gaiolas gigantescas, mesmo assim, um espaço limitado para animais que nasceram para voar pela amplidão do espaço. Olhos de águia, acostumados às alturas dos penhascos, vendo o mundo sob outro ângulo.
Corujas lado a lado num poleiro, incomodadas pela luminosidade. Uma delas, sobre um toco de árvore, parecia um totem.
Araras conversadeiras, o urubu-rei, um gavião. Cardeais, coleiros, caçados e engaiolados por décadas, mostrados em exposições. Vítimas da ignorância e da vaidade humana exibindo seu colorido e seu desencanto. O que será que fizeram para serem presos? Talvez seu crime seja invasão de espaço aéreo. Perderam a licença para voar.
Os grandes felinos em prisões de segurança máxima. Jaulas com grades de ferro. Uma onça rugia inconformada. E o leão, sentado, com olhar triste, não tinha nada da majestade que lhe é atribuída.
A girafa Doroteia morreu no ano passado. Espero que não comprem mais nenhuma. Bastam os animais que já estão confinados. Até mesmo uma criança percebe que ali não é o seu habitat.
Aos poucos, vamos nos humanizando. Não nos divertimos mais com as humilhações de animais em circos. Há adultos e crianças que se comovem ao ver animais aprisionados.
Nem tudo está perdido.





 

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