Vera Verissimo
se eu fosse um sopro
ou uma pena
ou uma água serena
algo leve e translúcido
como dor passada e já esquecida
aflições sem passar de uma dezena
se eu fosse
um amanhecer calmo
de sol dourando brisa mais que amena
um ondular de cortinas de voile
rosas amarelas num vaso de cristal
um decote deslizando sobre um ombro
uma libélula procurando pouso
algo assim fresco transparente
dotado de razão satisfeita
se assim eu fosse
em certos jeitos no rosto já vividos
num poema bem pensado
por uns segundos não mais
uma inevitável ventura de um momento ímpar
poema do livro Os elos da corrente