Nada mais surreal do que a realidade

Bruna Agra Tessuto

Caía uma penca de chuva no telhado do Theatro São Pedro. Na plateia, nomes como Luis Fernando Verissimo e Jorge Furtado já aguardavam. O espetáculo Eu de Você, com Denise Fraga, estava marcado para iniciar às 21h, mas, na minha interpretação, começou mais cedo.

Com o palco ainda vazio, minutos antes do início da peça, a atriz entrou na plateia para conversar com quem quisesse. Trocar com o público. Ouvir. Afinal, era sobre isso que ela trataria no palco: sobre escuta, empatia e vida.

Ano passado, para construir o espetáculo, Denise, junto com a direção e produção, recebeu cartas de pessoas, gente como a gente, contando episódios da vida. Em uma narrativa composta, então, por histórias reais, o espectador ia, ao longo das cenas, recebendo socos na plateia. Nada mais surreal do que a realidade.

O lugar do outro. A arte como exercício de empatia. Quantas vezes, no desenfreado cotidiano, nós conseguimos olhar para o lado? Quantas perdas, dores, amores, abusos e dilemas vivem nossos vizinhos e nós nem ficamos sabendo?

A chuva que caía lá fora, ao meu ver, ganhou um novo significado. Ela servia pra lavar a alma. Lavar a alma de todas as pessoas que, através da arte, ganharam voz e puderam gritar a sua história.

 

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