Sobrevivências fora da bolha

Bruna Agra Tessuto

Tiro. Afogamento. Transfobia. Ditadura. Suicídio. Bactéria. Trânsito. Feminicídio. Erro médico. Queimadura. Rompimento de barragem. De quantas formas o ser humano pode morrer? E de quais situações consegue sobreviver?

Pi – Panorâmica insana, espetáculo dirigido por Bia Lessa, choca. Com um cenário composto por cerca de 11 mil roupas, quatro atores dão corpo e voz para as inesperadas vidas guardadas nos tecidos. No palco, os donos das peças têm nome, idade e trajetória. O espectador se depara com a crueldade da existência.

Mulheres passam por situações que homens não conhecem. Negros vivem cenas que brancos acham que nem existe. Gays, refugiados, prostitutas, moradores de rua, doentes mentais, indígenas. O que acontece do lado de fora da nossa bolha?

O espetáculo durou noventa minutos. Ao fim, os atores, Claudia Abreu, Leandra Leal, Luiz Henrique Nogueira e Rodrigo Pandolfo, agradeceram e saíram. Mas as palmas seguiram ininterruptas. O público, em pé, reagia ao tapa na cara. Teatro bom é sinônimo de soco bem dado.

 

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