Apresentação do livro Terra Vazia, de Otavio Definski

Duda Falcão

Hoje acordei com o toque insistente do celular. Caminhei quase sem abrir as pálpebras até o espelho mais próximo e disse: “sou feliz!”. Sou mesmo. Faço as coisas que mais gosto. Escrevo histórias, leio livros de autores antes que sejam publicados, organizo eventos literários, leciono sobre escrita criativa e o mais importante: ainda posso questionar o mundo em que vivemos. Linha tênue, pois quando populistas autoritários, militaristas e seus governos assumem o poder a primeira coisa que fazem é amordaçar a cultura, a diferença e a pluralidade. Em suma, criam barreiras para a liberdade, para a ciência, para o amor, para a paz e para o raciocínio.

Terra Vazia é um alerta. Uma distopia ao melhor estilo de clássicos como o Admirável Mundo Novo ou Farenheint 451. Neste romance de estreia de Otavio Definski, um país sem nome determinado é dominado pelo autoritarismo, pelo machismo e por tecnologias da comunicação inspiradas em aparelhos atuais e relações sociais bem realistas. Lá – ou seria aqui? – as pessoas são controladas, seus questionamentos podados e encaminhadas como gado para uma vida considerada ideal e feliz. A violência, a vigilância e o apagamento da memória dos sujeitos se torna o principal papel do Estado. Sem dúvida, uma ditadura que protege os interesses de grandes empresas, do consumo exacerbado e do capitalismo.

Lara, a personagem central, contudo, é uma questionadora. Em sua jornada, descobre que existem outros questionadores como ela. No submundo e nos esgotos os questionadores elaboram estratégias de resistência para alcançar a liberdade e romper com os laços da falsa felicidade imposta pelo governo. A felicidade da sociedade em Terra Vazia é uma negação da liberdade. Aliena, oprimi, automatiza, intoxica e torna os sujeitos infelizes.

Olhei mais uma vez para o espelho e disse em voz alta: “Sou feliz, porque ainda sou livre! Mas é preciso mais do que isso. Todos precisam ser livres e ter condições de viver a sua liberdade como julgarem melhor”. A democracia e a liberdade precisam ser defendidas sempre. Resistir é um ato necessário para a garantia dos direitos. Faça como Lara e resista também. Questione a sociedade em que você vive.

 

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