Souvenirs

Marta Leiria

Neste primeiro dia com a recomendação de ficar em casa diante da ameaça concreta do coronavírus, resolvi rumar logo cedo para o meu gabinete, com meu chimarrão individual, ligar o computador e escrever sobre algo que não dá para fazer agora...viajar.

A questão é: vale a pena trazer souvenirs de viagens? Em setembro de 2019 estive em Amsterdã e arredores (crônica no meu site www.martaleiria.com.br). Apesar de ter levado apenas uma bagagem de bordo (bem pequena, exagerei, é para executivos em viagens a negócio) e uma mochila nas costas, não resisti e trouxe vários souvenirs da viagem, violando frontalmente o princípio da razoabilidade: dez queijos, tábua de madeira e porcelana para os queijos, copinhos para a minha linda bandeja de antiguidades e quetais, vaquinha, bicicletinha, chaveirinhos de tamanquinhos, vasinho de porcelana com flores de madeira, lenço do Museu Van Gogh, vários guardanapos decorados. Até sombrinha azul marinho e branca reproduzindo cenários pintados nas peças de porcelana. Isso sem falar nas lembrancinhas para a família.

Nem precisaria confessar o óbvio, mas vou! Tive uma trabalheira enorme para acomodar tudo na bagagem e carregar nas longas caminhadas dentro dos aeroportos. E me lembrei de um livro providencial para viajantes do turista profissional Ricardo Freire. “Viaje na Viagem, autoajuda para turistas”, é leitura útil e divertida. Uma das pérolas é o aviso aos mal-humorados: “Fiquem em casa. Mal-humorado não tem que viajar. Mal-humorado tem que construir casa na praia e compartilhar seu mau humor com arquitetos, empreiteiros, pedreiros, caseiros, meteorologistas, policiais rodoviários, sobrinhos, vizinhos, cachorros dos vizinhos.” Faz uma justa peroração aos desprovidos de bom humor. “Não me venham ler este livro e depois me acusar de ter metido vocês em frias homéricas, porque, dois pontos: vocês atraem as frias homéricas, e eu não tenho culpa nenhuma disso.” Forte, não é? Voltemos aos souvenirs.

Nesta viagem para a Alemanha trouxe caixinha de música em forma de carrossel com lindos cavalinhos (um chegou quebrado), livros, colar com pingente de réplica da linda Nefertiti. Como aprecio meus souvenirs! Não abro mão de ter essas memórias gravadas para sempre em muitos recantos da casa, evocando momentos que jamais se repetirão, ainda que a gente retorne a destinos já conhecidos.

Além de levar bom humor mundo afora, outra recomendação de peso do Ricardo Freire que segui à risca: “Dê-se ao luxo de comprar alguma coisa muito difícil de trazer. (‘o durante’ vai ser horrível, mas depois isso vira um tesouro).” Dos EUA trouxe uma bicicleta de verdade, que tornou a viagem ainda mais inesquecível. Até ônibus para chegar em Porto Alegre tivemos de encarar, foram muitos os contratempos. Mas essa é outa história. Está no meu livro solo, “A inveja nossa de cada dia e outras reflexões crônicas”. Confere lá: “Um livro sempre à mão”. E boas viagens (aguardemos o momento oportuno), repleta dos irresistíveis souvenirs!

 

voltar para página do autor