Quarentena

R. Duccini

Quarentena

O isolamento se aproxima do seu quartenário.

Você grita com o filhote de gato
Declarando impaciência com a infância,
sejam crianças gente ou animais;
A inquietude com o novo,
com sua surpresa de dentes
Desestabiliza minha harmonia
de quem não sabe lidar com o tempo
Com a nossa fuga da cidade
Do trânsito do Caos e fuligem
para viver na outra cidade
a das plantas e do uivo:
Do sonho de coletivo
que por vezes se mostrou
eu e você
(só eu e você?)
A cidade onde nada se cria
Mas eu me criei,
Contra toda a adversidade
O tédio a falta,
E o silêncio.
Onde insisto em provar o contrário.
Onde se ergueram prédios regidos pelas leis
neo pentecostais do Reino de Deus:
Deus patriarca
que odeia as mulheres,
odeias as trans e
todas as existências
que um dia compõem as letras das sigla LGBT.
Deus da guerra que prega a morte
e mata (porque nos matam)
de muitas formas,
por muitos dias,
mas ainda assim,
não consegue impedir
que floresçam as gentes,
que se reguem de saliva suor e sexo
que ramifiquem o amor.
E não consegue impedir
que nasçam os brotos
de feijão Azuki
no meu jardim de concreto.

 

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