Um novo palco

Bruna Agra Tessuto

O palco não necessariamente está em uma sala de espetáculos. O teatro permite que o ator se apresente em ruas, em galerias, em escolas. Porém, existe aquilo que une todas estas possibilidades: a presença. Artista e público compartilhando o mesmo espaço. O que se faz, então, quando 2020 chega e traz uma pandemia que exige distanciamento social?

A peça Deus é um DJ, de Falk Richter, encenada pelo Grupojogo, foi uma das primeiras respostas que tivemos em Porto Alegre. Com direção cênica de Alexandre Dill, direção audiovisual de Gabriel Pontes e protagonizada por Louise Pierosan e Gustavo Susin, ela encontrou saída na experimentação. O palco passou a ser o Instagram. A quarta parede, que separa atores e plateia, se tornou a tela do celular. Tudo sem presença. Ou melhor: tudo sem presença física.

Através de uma live, com hora e dia marcados, como um espetáculo pede, mais de 150 pessoas acompanharam ao vivo o trabalho. A partir daí, ao meu ver, não estávamos diante somente de um espetáculo, mas de dois. De um lado, a peça em si. De outro, a maneira como ela estava sendo contada.

Recebemos uma parte da trama com os atores interpretando nas suas próprias casas. Outra com gravações de uma apresentação no Teatro de Arena, em 2019. Tudo intercalado. Na tela do nosso celular, as cenas eram acompanhadas de efeitos pensados para a plataforma, como closes, cortes, divisões de tela. Além disso, público e personagens interagiam nos comentários da rede social. Em uma fusão de ineditismos, Deus é um DJ, para mim, superou a trama. O espetáculo foi além da história.

O palco sempre pediu presença física, energia e troca simultânea. Mas em um período em que não podemos nos juntar, nos tocar e não podemos conviver, é preciso o artista colocar em prática a palavra que sempre defendeu: experimentar. Um novo palco, por exemplo.

 

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