Caramelos Natalinos

Adriana Mondadori

Caramelos Natalinos

As rodelas da carambola pareciam estrelas adornando a borda do prato. O centro foi preenchido por doze cerejas, a mãe dizia que eram os planetas e as quatro fases da lua. Ela teimava que a lua é vermelha. Explicou que significava os ciclos da vida da menina, mulher, mãe e anciã. E, com o passar do tempo, eu compreenderia.

Não tínhamos o costume de comemorar o natal com ceia na véspera. A mãe não suportava ir à casa da vó Dinah e ver toda aquela gente comendo uma galinha exposta sobre a mesa com os ossos das pernas amarrados em um barbante, e o pior eram as pessoas que cavoucavam o ventre do bicho em busca de um tal de recheio. Antes disso, a vó fazia todos irem rezar na missa do galo. Engraçado, o galo é venerado com uma missa e a galinha é esquartejada. Como o pai sempre trabalhava nas noites de natal, a mãe tinha desculpa para não ir participar da farofada na casa dos parentes dele. Ela dizia.

Naquele ano, ela resolveu que teríamos uma ceia, só nós, eu, ela e meus dois irmãos, o pai novamente iria trabalhar. A mãe era mesmo avessa às tradições, o jantar seria somente com frutas, elas tem cores e significados, justificou. Acho que a mãe era meio bruxa. Além da novidade teve uma surpresa: o papai noel viria e nós íamos conhecê-lo, afinal ele sempre passava em casa de madrugada enquanto dormíamos, a mãe não chaveava a porta naquelas noites.

A mesa colorida estava pronta, logo ouvimos o tilintar de um sininho. Ele está chegando, a mãe disse. Corremos para a varanda. Na mesinha ao lado da cadeira de balanço, em que o pai costumava tomar mate nos entardeceres, havia um pote com caramelos para oferecermos ao noel em troca dos presentes.

Ele sentou, se balançando. Eu não conseguia ver o movimento dos lábios dele por detrás daquela máscara feia, não entendia por que um papai noel usava uma máscara de papai noel. Pediu para que eu chegasse perto dele. Estava ansiosa para saber se o livro o qual eu pedira de presente estava no saco mágico vermelho.

- Então você quer o livro da menina que também não gosta de sopa.
- Sim, como o senhor sabe que eu também não gosto de sopa?
- Eu sei tudo o que acontece nesta casa. Ele respondeu olhando para todos nós.

Em seu regaço, me afagou. Pediu para ver a palma da minha mão, com o seu dedo indicador desenhou nos traços e disse:
- A sua mão tem uma letra eme. M de menina.
- E a sua mão, Papai Noel, é igual a de meu pai.


 

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