Entardecer

Marta Helena Xavier

Um céu rosado no horizonte. O entardecer chegava trazendo junto o vento. A areia, esquecida pelo sol, entrava por baixo da saia fazendo cócegas em minhas coxas. Entrei pelo jardim ouvindo a lamúria do taquaral e parei diante da porta, esfregando as mãos nas pernas para tirar a areia. Coloquei a chave na fechadura, girando bem devagar- queria surpreendê-lo.
Lá estava Lorenzo: de costas para mim, voltado para a varanda que terminava quase batendo na mata. Tinha um livro entre as mãos e a cabeça dirigida a ele. Cheguei por trás, com passos quase flutuantes. A camisa, que sempre o vestia de forma displicente, deixava à mostra a pele bronzeada do pescoço através dos espaços da gola caída.
Quando ele percebeu, minhas mãos já desciam pelos seus ombros em direção ao peito ainda bem delineado. Seu único movimento foi largar o livro no chão. De resto, ficou imóvel como uma presa encurralada. Grudei meu corpo junto ao dele e deixei meus dedos percorrerem, sem pressa, cada pedaço de um dorso que exalava o cheiro amadeirado da loção que eu amava. Quanto mais eu sentia o pulsar do corpo dele, mais o meu se contorcia em uma espera alucinante.
Meus braços foram descendo quase em queda livre, até que minhas mãos alcançaram o que já se insinuava em riste, apontando as árvores da mata. Agarrei com força calculada - nem frouxo, nem apertado demais. Meus dedos comprimiam e soltavam em um vai e vem sincronizado. Ele virou a boca em minha direção, engolindo minha língua para dentro dele.
Chegou minha vez de virar presa. Lorenzo, sentando na poltrona junto ao vidro da porta, me colocou entre suas pernas. Moveu as alças de meu vestido para baixo, até ele cair no chão. Sorriu quando percebeu, ali grudada na sua cara, Vênus se exibindo despudorada em forma de monte. Enterrou o rosto entre minhas pernas e forçou minhas coxas abrirem com uma língua úmida e morna. Eu sucumbi - me deixei levar pelos tremores que tomaram conta de mim. Ele me virou de costas, prensando meu corpo na porta da varanda. E ali, diante da mata Atlântica, com Lorenzo me cavalgando por trás, percorremos todos os cantos da floresta antes de subirmos até o céu.






 

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