Crônicas argentinas 1

Denise Accurso

Eu e o Rossano, meu marido estamos fazendo uma viagem pela Argentina, e começamos pelo Norte, que ainda não conhecíamos. Tratando-se de uma viagem mais longa, surgem necessidades como, principalmente no caso dele, cortar o cabelo.
Tínhamos deixado o carro para lavar e caminhávamos pelas ruas de Salta, leves e felizes. Eu mais leve que ele, que carregava uma mochila vermelha grande às costas, com casaco, chimarrão, etc.
Em quase toda a Argentina o intervalo de almoço é longo, de no mínimo 3 horas. Em Salta, tudo fecha à uma e reabre às cinco da tarde. As ruas se tornam tranquilas e vazias, e era nesse horário que caminhávamos quando vimos uma barbearia aberta.
Deixei meu marido ali e o encontrei mais tarde, quando ele me contou sua conversa com o barbeiro. Como a maioria dos viajantes, temos muitas preocupações com relação à segurança. Já nos tinham dito que Salta era segura, mas ainda assim ele resolveu consultar o barbeiro. Eis o relato:
- Estou aqui neste ponto há 36 anos. Vou a toda a parte a pé. Fecho às nove da noite e saio tranquilamente.
Em seguida, aproximou do rosto do cliente seu relógio de pulso. Rossano nada entende de relógios, mas viu refulgir o brilho inconfundível de diamantes.
- Sabes o que é isto? Um Rolex original. Jamais o tiro do pulso. Nunca ninguém sequer tentou se aproximar para ver melhor.
Então, o barbeiro apontou a mochila vermelha:
- Sei saíres em Buenos Aires ou em Rosário com esta mochila, não andas uma quadra. E se resistires em entregá-la, te matam.
Não pretendemos fazer a comprovação quanto à veracidade desta história.

 

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